quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Lições gratuitas

Estava eu displicentemente na parada de ônibus. Havia ido até a universidade resolver alguns pormenores antes de seguir para o estágio. Fiquei sentada, na parada de um dos setores olhando para o além, ou melhor, para a direção onde poderiam surgir o ônibus que me conduziria a meu destino. Ficaria bonito eu dizer aqui que estava absorta em meus pensamentos, mas a verdade é que eu não estava. Não estava pensando em nada, apenas tinha o olhar vazio e o comando na mente para identificar o número do ônibus que eu deveria pegar tão logo ele surgisse no horizonte da minha visão.

A parada enchia e se esvaziava em seu ritmo normal. Os ônibus chegavam e partiam, despejando seus estudantes (em uma parada na universidade eles são, indiscutivelmente, a maioria). Tudo normal...

De uma hora pra outra parou um ônibus e vários estudantes desceram. Alguns conversavam entre si, outros quase corriam por estarem provavelmente atrasados e outros seguiam seu caminho. Normal.

Mas um desses estudantes me chamou a atenção. Ele era magro, esguio e ouvia música com seus fones de ouvido. Até aí nada diferente de muitas pessoas que a gente encontra no dia-a-dia nas ruas. Mas ele diferente. Tinha algum problema de locomoção, não sei, talvez algo relativo à coordenação motora, que fazia com que cada passo fosse um empreendimento enorme. Parecia que sua vontade de andar era maior do que a força para comandar o corpo, que se mexia desordenadamente enquanto ele vencia seu caminho.

Fiquei olhando pra ele, mas não tive pena. No momento o sentimento que cresceu em mim foi de uma admiração imensurável. Ele não teve pressa, fez o percusso a seu tempo. Para mim, mera expectadora, parecia que ele podia cair a qualquer momento; mas não caiu.

Pensei: ele deve ter enfrentado dificuldades a vida toda e ainda hoje continua lutando. Não importa o curso que ele faz, o que importa é que ele vai se formar e deve vir à faculdade todos os dias de ônibus, vencendo os limites do seu corpo, os limites dos transportes públicos, os limites do preconceito daqueles que acham que ele não vai conseguir... Mas ele continua em frente e definitivamente não é do tipo de pessoa que fica esperando a vida passar.

Ninguém NUNCA devia fazer isso: esperar a vida passar.

Fiquei feliz por ter esperado o ônibus naquele exato lugar, naquele exato momento, e também grata a esse menino pela lição que ele me deu gratuitamente, sem nem tomar conhecimento.

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